galiciaunica Un recorrido semanal por Galicia, España.

DE FILIPE V A FILIPE VI OU O CULTO À PERSOALIDADE

Por José-Mª Monterroso Devesa

Um tivo a sorte de se criar e formar -deformar, segundo um finado parente político, falangista el- num país sudamericano com fonda trajectória democrática e republicana -e umha subjazente vocaçom federal nom cristalizada. Assí foi como, digo-o com humildade, consolidou-se neste cerebro umha certa sensibilidade verbo de conceptos da prática civil e cívica cotidiana. Práticas que podem ser tachadas de secundárias mas que, como tanta realidade aparentemente nímia, guardam no seu cerne pistas dumha actitude arraigada de indiferência perante realidades abondo distantes dumha conceiçom livre da sociedade e do indivíduo em si.

A maiores, e já concretando, foi tal o indoctrinamento da ditadura espanhola durante quatro décadas de lavado, seguidas doutras tantas de após-lavado mental, que logrou que a gente -nós todos- asumisse certas cousas com toda a naturalidade do mundo, como se fossem normais. Como paradigmático, o que nos desvelou hai pouco o amigo L.Fernández Prieto, é o do nome “Radio Nacional de España”, no que o termo nacional (na acepçom de “oficial” atribuível a umha naçom) no fundo agocha a outra acepçom espúria, derivada do “bando nacional” rebelde fronte ao governo da República espanhola.

(Apropiaçom semelhante e geralmente inadvertida do urbanónimo corunhês “A Marinha”, erguendo, em 1973 (olho ao ano!) um monólito nessa via coas armas da “Marina española”, retorzendo o significado tradicional do nome da vía, que era “a marinha”, como pudera ser “a ribeira” doutras muitas vilas e cidades, v.g. Rianxo).

Mas, voltando ao ámago destas reflexons, aquela sensibilidade levou-nos, algo tarde, a autoprivar-nos, durante longo tempo -contra 1991-2011- do direito e obriga moral do voto…. em quanto nom era o cidadao, mas o presidente da mesa receptora, quem tinha asignado introduzir o envelope co voto na urna correspondente. Clara reminiscência da normativa franquista que, desconfiando da madurez e/ou honradez daquel cidadao, privava-o de tal funçom: comentado isto com políticos nacionalistas nossos… quedamos desairados pola nula importância que lhe deram ao tema.

Desde 1998 -ano em que, ingenuamente, recorremos ao “Defensor del Pueblo”, com resposta adversa-, até 2009, em que Antoni Picó i Azanza, de Convergència i Unió, nos informou da  tramitaçom em curso dumha proposta nom de lei acerca desta questom -os cataláns pioneiros de sempre, tirando do carro da desídia geral- e conseguirom se corrigisse, coa Lei orgánica de 28-01-2011 “del régimen electoral general” o Regulamento eleitoral no seu capítulo 30… reconhecendo, por fim, à gente o direito físico a depositar o voto… Em todo esse período foi que prescindimos de votar naquelas condiçons.

E agora vaiamos à reflexom que dá pé ao título. Naquela República longínqua que dixem, está estabelecida legalmente, em luita secular contra o “culto à persoalidade”, a proibiçom de fazer determinadas homenagens a figuras nacionais antes de transcorrida umha década do seu passamento; homenagens específicas em algum destes ámbitos: a numismática e a filatélia, a plaquística e, sobre isso, a monumentabilidade ou a representaçom gráfica em entidades públicas como podem ser os ministérios ou as escolas, ou o nomeamento de edifícios públicos (outra volta os de ensino)… ou o nomenclátor das cidades. Norma na que se tenhem produzido contadíssimas excepçons (p.e., umha mestra anciá à que se homenageou em vida cumha rua).

Os países novos adoitam ter um prócer histórico, mais ou menos indiscutido, para presidir aqueles espaços. Estes antigos estados nossos talvez deveram pôr, em troca da do chefe do estado, algumha figuraçom da Constituiçom -nom gostamos daquelas representaçons femininas da República, herdadas da Revoluçom francesa, sem que, por isso, estemos em contra do seu uso- ou, no caso das naçons como a Galiza, a efígie do persoeiro histórico privativo correspondente (Castelao, etc.).

É claro que a norma anti-culto, no seu rigor, excede a intençom original de ter como objectivo a sua aplicaçom a homes ou mulheres políticos -si, tamém algumha que outra mulher, lembrade Eva Perón-, val dizer, a todo aquel que tenha relaçom com o poder… caíndo na injustiça de impedir render tributo de admiraçom a outros muitos vultos das artes e das ciências, da literatura ou do ensino, da sanidade ou do activismo social nos que nom se teria dado o tam temido finchamento antidemocrático.

Fronte a isto, vemos como neste, por mal nome, Reino de España, alcalde que cesa, alcalde que vé o seu nome plasmado numha rua, além dos seus merescimentos ou desmerescimentos. Em falando de alcaldes, aí temos o reiterado autoculto à persoalidade -quase sempre esse culto évos auto- co abuso do nome do regedor de turno em placas comemorativas de inauguraçons diversas (na Corunha déu-se isto, em medida que ousamos qualificar de obscena, co sempiterno alcalde F.V. y Vázquez. E vede-aí que convida à esperança umha recente invitaçom da actual alcaldesa de dito município, que simplesmente reza: “A alcaldesa da Coruña…”, sem sequer dar o nome dela).

Isto leva-nos ao tema numismático, fartos de suportar primeiro a efígie do ditador, até que foi substituída pola do seu herdeiro o monarca -hoje emérito-, por sua volta trocada pola de seu filho. Sabemos que é este um costume dos regimes monárquicos, algo tam oposto ao suposto carácter democrático das monarquías europeas todas. E no caso espanhol, caíndo na ridiculez de nomear “Hospital Infanta Leonor” ou “Premio Princesa de Asturias” -com esse risível cámbio de sexo-, resultando disto umha prática sobérbia, umha autohomenagem perversa da pior caste…

O nosso incorrigível optimismo leva-nos a sonhar em que o borbonismo que comezou com Filipe V acabe com Filipe VI -ouh manes de Louis-Philippe!… a menos que a personagem se presentasse a eleiçons para presidente dumha república reimplantada, em cuja tesitura, de ganhá-las, outro seria o conto… Entom, de se cumprir a nossa arela, exprimida em pró da dignidade democrática do estado todo, estaria-se fechando, a boa hora!, o último capítulo dumha ditadura que foi.

JOSÉ Mª MONTERROSO DEVESA